Um dia estava um escorpião na margem de um riacho, e vendo passar uma rã disse:
-Olá, precisava mesmo de chegar à outra margem mas não sei nadar! Não te importas de me atravessar às tuas costas?
Céptica a rã respondeu:
-Eu conheço os da tua espécie. Sei que me vais picar e matar-me-ás logo na primeira oportunidade!
-É verdade o que dizes, mas repara, eu tenho mesmo que atravessar e não sei nadar. Se te picar morremos os dois, por isso não tens o que temer.
Parecendo que era lógico o que lhe dissera o escorpião, a rã assentiu em ajuda-lo a atravessar o riacho.
Quando iam a meio do percurso o escorpião picou a rã:
-És louco?! Agora vamos morrer os dois.
O escorpião soltou um suspiro e disse:
-Desculpa, é da minha natureza!
Já todos nós ouvimos a expressão "Não se deve avaliar um livro pela capa."
Pois bem, eu já me deparei com vários tipos de livros.
Aqueles que logo a partida olhei e vi que não prestavam.
Outros que não pareciam ser nada bons, mas que tinham paginas lindíssimas!
E outros ainda que era terrivelmente belos, mas no interior tinham passagens absolutamente medonhas.
Há uns anos deparei-me com um especial, tinha uma capa suigeneris. Não se poderia dizer que era muito bela, mas também não se poderia dizer que era feia. Era uma questão de perspectiva, dependia que tipo de luz o ilumina-se nesse dia. Peguei-o, folheei-o, explorei-o e guardei-o para mim. Descobri, que o seu interior era exactamente como a capa, tinha capítulos com descrições lindíssimas. cheias de cores e de magia, e outros absolutamente escuros e macabros. Ao inicio deixem os melhores de lado e pus-me a desventrar os mais escuros. Cada pormenor, cada detalhe, cada linha. Sem deixar escapar uma virgula, um ponto nada! Cheguei ao fim e decidi, que ia ficar com o tal livro, para sempre, agora que conhecia a sua essência.
Mesmo no fim dizia: "Se sabes como são maus alguns dos meus capítulos. porque vais ficar comigo?"
Mentalmente respondi: "Porque agora já os conheço, portanto não me vou desiludir!"
Os anos passaram, e eu fui lendo os capítulos que tinha deixado para trás com cuidado, com atenção e com tempo, com muito tempo. Esquecendo o que tinha lido antes, quase arrancando aquelas páginas sujas.
Mas chegou o dia em que o abri à sorte e fui parar a um desses trechos, caí incrédula, desamparada, desconcertada. Tinha-me esquecido daquelas partes. Mas elas estavam lá. Sempre estiveram. Porque num livro não há paginas soltas!

(...) é a minha natureza!